sábado, 16 de fevereiro de 2013

Em direção a uma ordem de realidade diferente



Não concordo que o corpo precise morrer. Estou convencido de que podemos obter a imortalidade física. Acreditamos na morte e é por isso que o corpo morre.

O corpo não morre porque acreditamos na morte. O corpo existe, ou assim parece, porque acreditamos na morte. O corpo e a morte são partes da mesma ilusão, criada pelo modo egóico de consciência, que não tem percepção da Fonte da vida e vê a si mesmo como uma coisa separada e sob constante ameaça. Assim, ele cria a ilusão de que somos um corpo, um veículo físico e sólido, que está sob uma constante ameaça.

A ilusão está em percebermos a nós mesmos como um corpo vulnerável, que nasce e pouco depois morre. Corpo e morte: uma ilusão. Um não existe sem o outro. Queremos manter um lado da ilusão e nos livrarmos do outro, mas isso é impossível.

Entretanto, você não pode escapar do corpo, nem tem de fazer isso. O corpo é uma percepção incrivelmente distorcida da nossa verdadeira natureza. Mas a nossa verdadeira natureza está disfarçada em algum lugar dentro dessa ilusão, não do lado de fora, portanto o corpo ainda é o único ponto de acesso a ela.

Se você vê um anjo, mas o confunde com uma estátua de pedra, tudo o que você precisa fazer é adaptar a sua visão e olhar mais de perto para a “estátua de pedra”, e não olhar para outro lado. Você então percebe que aquilo nunca foi uma estátua de pedra.

Se a crença na morte cria o corpo, por que um animal tem corpo? Um animal não tem um ego e não acredita na morte...

Mas ele morre, ou parece que morre.

Lembre-se de que a nossa percepção do mundo é um reflexo do nosso estado de consciência. Não estamos separados dele e não há um mundo objetivo fora dele. A cada momento, a nossa consciência cria o mundo em que habitamos. Um dos maiores insights que a física moderna teve foi o da unidade entre o observador e o observado: a pessoa que conduz a experiência – a consciência observadora – não pode ser separada dos fenômenos observados, e uma nova maneira de olhar leva os fenômenos observados a se comportarem de maneira diferente. Se você acredita na separação e na luta pela sobrevivência, vê essa crença refletida à sua volta e as suas percepções acabam sendo governadas pelo medo. Você vive num mundo de morte, lutas, uns atacando e matando os outros.

Nada é o que parece ser. O mundo que você criou e vê através da mente pode parecer um lugar bem imperfeito, até mesmo um vale de lágrimas. Mas o que quer que você perceba é somente uma espécie de símbolo, como uma imagem em um sonho. É o jeito pelo qual a sua consciência interpreta e interage com a dança de energia molecular do universo. Essa energia é o material bruto da assim chamada realidade física. Você a vê em termos de corpos e de nascimento e morte, ou como uma luta pela sobrevivência. Existe um número infinito de interpretações diferentes, de mundos completamente diferentes, tudo dependendo do que a consciência percebe. Cada ser é um ponto focal da consciência e cada ponto focal cria o seu próprio mundo, embora todos esses mundos se interliguem. Existe um mundo humano, um mundo das formigas, um mundo dos golfinhos, etc. Existem incontáveis seres cuja freqüência de consciência é tão diferente da nossa que provavelmente não temos consciência da existência deles, assim como eles não têm da nossa. Seres altamente conscientes da ligação que mantêm com a Fonte habitam um mundo que para nós pareceria com um domínio celeste. Mas ainda assim todos os mundos são basicamente um só.

No momento em que a consciência humana coletiva tiver se transformado, a natureza e o reino animal irão refletir essa transformação. Aqui está a afirmação da Bíblia de que no futuro “o leão vai se deitar ao lado da ovelha”. Isso aponta para a possibilidade de um ordenamento da realidade completamente diferente.

O mundo tal qual se apresenta para nós é em grande parte um reflexo da mente. Sendo o medo uma conseqüência inevitável da ilusão criada pelo ego, é um mundo dominado pelo medo. Assim como as imagens em um sonho são símbolos dos estados interiores e dos sentimentos, assim a nossa realidade coletiva é uma expressão simbólica do medo e das pesadas camadas de negatividade até agora acumuladas na psique coletiva humana. Não estamos separados do nosso mundo, então, quando a maioria dos humanos se tornar livre da ilusão egóica, essa mudança interior vai afetar toda a criação. Vamos, literalmente, viver em um novo mundo. É uma mudança na consciência do planeta. O estranho ensinamento budista que toda árvore e toda folha de grama irão finalmente se tornar iluminadas aponta para a mesma verdade. De acordo com São Paulo, toda a criação está à espera de que os homens obtenham a iluminação. É assim que interpreto suas palavras: “A criação aguarda, com impaciência, a revelação dos filhos de Deus”. São Paulo diz que todo o universo vai se redimir através disso, ao escrever: “Sabemos, com efeito, que a criação inteira geme, ainda agora, com as dores do parto”.

O que está nascendo é uma nova consciência e, como um reflexo inevitável, um novo mundo. Isso também está relatado no Livro das Revelações do Novo Testamento: “Vi, então, um novo Céu e uma nova Terra, porque o primeiro Céu e a primeira Terra desapareceram...”

Mas não confunda causa e efeito. Nossa primeira tarefa não é buscar a salvação através da criação de um mundo melhor, mas sim despertar da nossa identificação com a forma. Não estamos mais presos a este mundo, a este nível de realidade. Podemos sentir nossas raízes no Não Manifesto e assim estamos livres do apego ao mundo manifesto. Ainda podemos desfrutar os prazeres passageiros deste mundo, mas não somos mais escravos dessas experiências, não estamos mais em busca de satisfação através de uma gratificação psicológica, através da alimentação do ego. Não temos mais medo de perder alguma coisa, portanto não precisamos nos apegar a este mundo. Estamos em contato com algo infinitamente maior do que qualquer prazer, maior do que qualquer coisa manifesta. Em um certo sentido, não precisamos mais do mundo e nem mesmo que ele seja diferente do que é.

É neste ponto que você começa a dar uma contribuição real para criar um mundo melhor, uma nova realidade. É neste ponto que você se torna capaz de sentir a verdadeira compaixão e de ajudar os outros. Somente aqueles que transcenderam o mundo conseguem criar um mundo melhor.

Você deve lembrar que já falamos sobre a dualidade da verdadeira compaixão, que é a percepção de uma ligação tanto com a mortalidade quanto com a imortalidade. Nesse nível profundo, a compaixão se torna um remédio no sentido mais amplo. Nesse estado, a sua influência curativa se baseia não no fazer, mas no ser. Todas as pessoas com quem você mantiver contato serão tocadas pela sua presença e afetadas pela paz que você emana, quer elas estejam ou não conscientes disso. Quando estiver inteiramente presente e as pessoas à sua volta tiverem um comportamento inconsciente, você não vai sentir necessidade de reagir. A sua paz será tão grande e profunda que tudo que não for paz desaparecerá nela, como se nunca tivesse existido. Isso quebra o ciclo cármico de ação e reação. Os animais, as árvores, as flores vão sentir a sua paz e reagir a ela. Você ensinará através do ser, através da demonstração da paz de Deus. Você passará a ser a “luz do mundo”, uma emanação da pura consciência, e assim eliminará a causa do sofrimento. Você eliminará a inconsciência do mundo.


Isso não significa que você não possa também ensinar através da ação – por exemplo, ao apontar como se desidentificar da mente, reconhecer padrões inconscientes no interior de alguém, etc. Mas quem você é será sempre um ensinamento transformador do mundo mais vital e mais poderoso do que o que você disser, e até mais essencial do que o que você fizer. Além disso, reconhecer a primazia do Ser – e assim trabalhar no nível da causa – não exclui a possibilidade de que a sua compaixão possa simultaneamente se manifestar no nível da ação e do efeito, ao aliviar o sofrimento sempre que você o encontrar. Quando alguém faminto lhe pedir pão e você tiver, você vai dar. Mas, ao dar o pão, mesmo que o seu contato seja muito breve, o mais importante será esse momento do Ser partilhado, do qual o pão é apenas um símbolo. Uma cura profunda se instala internamente. Nesse momento, não há doador nem receptor.

Como podemos criar um mundo melhor sem acabar primeiro com grandes males, como a fome e a violência?

Todos os males são efeito da inconsciência. Podemos aliviar os efeitos da inconsciência, mas não podemos eliminá-los, a menos que eliminemos sua causa. A verdadeira transformação acontece no interior, não no exterior.

Querer aliviar o sofrimento do mundo é uma coisa muito nobre, mas lembre-se de não se concentrar exclusivamente no exterior, do contrário você vai sentir frustração e desespero. Sem uma profunda mudança na consciência humana, o sofrimento é um buraco sem fundo. Portanto, não permita que a sua compaixão se torne unilateral. A empatia com o sofrimento do outro e o desejo de ajudar devem ser equilibrados com uma profunda percepção da natureza eterna de todas as coisas e com a consciência do aspecto ilusório de todos os sofrimentos. Permita que a sua paz inunde tudo o que você fizer e estará atuando sobre o efeito e a causa ao mesmo tempo.

Se quiser impedir que os seres humanos destruam uns aos outros e acabem com o planeta, lembre-se de que, assim como não consegue combater a escuridão, você também não pode combater a inconsciência. Se tentar fazer isso, a oposição polar vai se tornar fortalecida e mais profundamente arraigada. Você vai se identificar com uma das polaridades, vai criar um “inimigo” e será conduzido ao seu eu interior inconsciente. Eleve a consciência ao disseminar a informação, ou melhor, pratique a resistência passiva. Mas tenha a certeza de que você não carrega nenhuma resistência interior, nenhum ódio, nenhuma negatividade. “Ame os seus inimigos”, disse Jesus. O que, obviamente, significa: não tenha inimigos.

Uma vez que você se envolva em atuar no nível do efeito, é muito fácil se perder dentro dele. Fique alerta e muito, muito presente. A causa tem de permanecer o seu foco inicial; o ensinamento da iluminação, o seu propósito principal, e a paz, o seu mais precioso presente para o mundo.

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